terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Alice



Alice deliciou-se com o conteúdo do vidro sobre a mesa e encolheu. Há dias atrás, a ideia de parecer invisível ao mundo havia fascinado seus pensamentos, mas agora estava invisível demais. Ela passou pela porta certa, percorreu o caminho desejado e ainda assim, sua pequenez a incomodava.

Alice sentia que passava despercebida e comeu do bolo. Agora era uma garota gigante. Sentiu-se realizada pelos primeiros minutos, mas logo percebera que era grande demais e não caberia mais no mundo. Lutou contra os guardas de copas e os venceu, mas sua grandeza a fazia uma aberração. Ser tão imensa a incomodava.

Alice tentou de outros meios. Tomou um avião e fugiu para a terra dos gigantes. Sentiu-se bem durante a primeira semana, mas logo percebeu: ali era comum demais. O que antes a fazia um ser bizarro, agora não era mais perceptível.

Alice mudou-se novamente. Dezenas de vezes e a história se repetia. Alice sentia-se um disco riscado, como se repetisse sempre a mesma frase de novo e de novo. Ela sofreu. Desistiu de tentar satisfazer-se e escondeu-se em seu quarto trancado.

Alice chorava, noite e dia. Não compreendia sua insatisfação para consigo mesma. Usou de seus disfarces para impressionar aqueles ao seu redor, mas com o tempo, Alice ainda entediava-se.

Na terça-feira seguinte, Alice acordou de sopetão. Ao entender que tudo aquilo não havia passado de um sonho, ela também compreendeu a si mesma. A culpa não era do frasco ou dos doces encantados que havia provado, a culpa era única e exclusivamente sua. O motivo de seu desconforto, não entendeu até hoje, mas o grande passo de sua vida havia dado: a descoberta de que compreensão de si não vinha dos objetos ou sequer das pessoas. A compreensão de si havia de vir de sua própria mente. 

3 comentários:

  1. No dia em que você escrever um livro, eu tenho certeza de que vou comprar (independente do tema abordado), só para ter o prazer de ler algo bem escrito! Parabéns!! Você escreve muito bem!!

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    1. Não vai precisar comprar. Quando eu, enfim, escrever um livro, vou mandá-lo pra você, com uma dedicatória especial a minha amiga de ônibus! <3

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  2. Joga o jogo, Alice: Madness Returns, vai gostar.
    Quanto ao texto, está bom, rápido, mas se você tentar reescrever acho que fica melhor ainda, prolongando-se mais em alguns episódios. Dando uma cara mais de conto.
    Beijos!

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